O racionalismo crítico é
o sistema filosófico proposto por Karl Raimund Popper para
a epistemologia.
Um conceito
central nesta teoria é o da necessidade da falseabilidade dos
sistemas teóricos.
Eles devem ser averiguados pela observação. Se a observação
não repudiar a teoria isso não significa, no entanto que a teoria possa ser
considerada como válida. Popper descreve este sistema em "A sociedade
aberta e seus inimigos".
A Sociedade
Aberta e Seus Inimigos inicia um ponto de inflexão a partir do qual a doutrina
liberal encontrou o caminho que o levaria, nas décadas seguintes, a impor ao
comunismo totalitário uma derrota que se espera seja definitiva.
Foi publicada em
1945, época em que o caráter totalitário do regime soviético ficara obscurecido
em decorrência da aliança da União Soviética com o Ocidente, contra o nazismo.
Na dicção de Rodrigo Constantino, com
‘A Sociedade Aberta e Seus Inimigos’, Popper notabilizou-se igualmente como
pensador político. Sua proposta fundamental consiste em aplicar, à organização
social, o mesmo método que desenvolveu em relação à ciência. Se o crescimento
desta depende da derrota do dogmatismo, também a democracia não pode sobreviver
à existência de verdades irrefutáveis. A sociedade aberta é uma conquista da
civilização, corresponde ao sistema concebido e praticado pelo homem maduro,
que recusa ser tratado como criança pelo Estado, aceita todas as suas responsabilidades
– entre as quais inclui não apenas direitos mas também deveres –, reconhece a
impossibilidade do paraíso terrestre e desdenha das utopias socialistas.
Popper entendia
que a civilização começa com sociedades fechadas, organizadas em bases tribais,
repousando as relações sociais na rigidez dos costumes, geralmente fundados em
crenças mágicas.
O autor observa
que na Grécia iniciou-se outra experiência de criar um espaço para a
responsabilidade pessoal. A obra de Platão está
destinada a obstar essa mudança. Popper enxerga na teoria política platônica a
origem do totalitarismo, razão pela qual a submete a uma crítica profunda.
Destarte, Platão
desenvolve a teoria de que os seres e as instituições existentes são cópias
imperfeitas de ideias imutáveis, cumprindo reconstituí-las como ideal a fim de
dispor de uma espécie de arquétipo. No caso do Estado, o ideal deveria refletir
aqueles aspectos presentes aos Estados existentes. O critério para
identificá-los consiste nas estruturas que se tenham revelado mais duradouras,
isto é, que impeçam as mudanças. A origem destas provém da desunião da classe
governante, cumprindo portanto substituí-la pelo sábio (filósofo). O modelo que
estaria mais próximo do Estado ideal seria Esparta, onde vigorava uma espécie
de ditadura dos mais experientes.
De acordo com
Popper, coube a Hegel proceder
à reelaboração moderna do totalitarismo platônico, tendo se tornado o “elo
perdido” que permite identificar as origens do totalitarismo em nosso tempo.
Como Platão, Hegel irá
ocupar-se em sua obra de demonstrar que o Estado é tudo e, o indivíduo, nada.
Sua doutrina mereceu de Popper caracterização e análise exaustivas.
A crítica de Karl
Popper denomina de historicismo tem em vista a suposição de que haveria
determinismos históricos. Na tradição anglo-saxônica o emprego do termo não
induz a equívocos, o mesmo, entretanto não ocorrendo na tradição latina. Nos
países latinos há uma longa tradição historicista que consiste no inventário
dos valores que caracterizam a cultura ocidental, justamente o que Miguel Reale
denominou de historicismo axiológico.
Popper vale-se
justamente dessa espécie de historicismo ao reivindicar para a sociedade aberta
aqueles princípios que se fundam no valor da pessoa humana, uma das
características distintivas de nossa civilização. Embora na tradução não
coubesse adotar outro termo, cumpre levar em conta o sentido em que o emprega e
de que tradição se louva para fazê-lo.
“Não é possível discutir racionalmente com alguém que prefere matar-nos
a ser convencido pelos nossos argumentos.”
Karl Popper
* Karl Popper (Nasceu em Viena, 28/07/1902; Morreu em Londres, 17/09/1994) foi um filósofo da ciência austríaco naturalizado britânico. É considerado por muitos como o
filósofo mais influente do século XX a tematizar a ciência. Foi
também um filósofo social e político de estatura considerável, um grande
defensor da democracia liberal e
um oponente implacável do totalitarismo.
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