Juristas entregam
proposta que deve reduzir em
até 70% duração de processos.
até 70% duração de processos.
Os dados
mais recentes da pesquisa Justiça em Números, o mais completo retrato
estatístico do Judiciário brasileiro, indicam que 70 milhões de processos
passaram pelas mãos dos 15 mil magistrados federais, estaduais e do trabalho em
2008. Somente 25 milhões foram julgados no ano. A carga de trabalho média por
juiz chega a 9 mil processos na Justiça estadual. O acúmulo de demandas atrasa
as decisões, mas não é o único motivo para a tão conhecida lentidão do
Judiciário no país: uma legislação processual excessivamente burocrática, que
permite a multiplicação de recursos e todo tipo de artimanha protelatória,
dificulta o real acesso da população à Justiça.
A
comissão de juristas que elaborou um anteprojeto de novo Código de Processo Civil procurou
atacar essas duas frentes. Por um lado, elaborou mecanismos para reduzir o
número de processos, por outro desenhou inovações para assegurar decisões mais
ágeis. O presidente da comissão, Luiz Fux, ministro do Superior Tribunal de
Justiça, estima que a proposta levará a uma redução de até 50% no tempo de
tramitação dos processos individuais na área cível e de até 70% nas demandas de
massa.
O texto
final do grupo de 12 especialistas, que realizou o trabalho a pedido e com o
apoio do Senado nos últimos sete meses, será entregue amanhã ao presidente da
Casa, José Sarney. Em seguida, será analisado pelos senadores e pelos
deputados. Para a elaboração do anteprojeto, foram realizados debates em
Manaus, Fortaleza, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto
Alegre e Brasília, com mais de 2 mil participantes, ouvidas as principais
entidades representativas do direito no país e colhidas 260 sugestões. A
comissão também recebeu propostas por meio de 600 e-mails e analisou os 174
projetos que tramitam no Congresso sobre o tema.
Duração
razoável
Todo o
trabalho de revisão do Código de Processo Civil,
que está em vigor há 37 anos, foi norteado pela premissa de buscar o
cumprimento de um preceito constitucional largamente descumprido, o direito à
duração razoável dos processos. Isso, como destaca Fux, sem ferir as noções
fundamentais do contraditório e da ampla defesa. O grupo de juristas concluiu
que há excesso de formalismo, de recursos e de demandas no sistema judiciário.
- Um país
que não desincumbe no prazo razoável da prestação da justiça é um país que tem
uma Justiça inacessível - afirma.
Para a
relatora do anteprojeto, a advogada e professora universitária Teresa Alvim
Wambier, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Processual, a
racionalização do processo civil vai permitir que os juízes se concentrem menos
nas questões formais e mais nos casos em si.
- Nós
estamos vivendo uma fase de imensa deformação, porque o juiz centra a sua
atenção, paradoxalmente, muito mais em problemas processuais do que no próprio
mérito. O juiz está ali para decidir a lide, decidir quem tem razão - analisa.
Outro
integrante da comissão, o desembargador José Roberto Bedaque, do Tribunal de
Justiça de São Paulo, salienta que a proposta, além de simplificar os
procedimentos, consolida "as orientações já consagradas tanto na doutrina
como na jurisprudência". Ele observa que o esforço de simplificação foi
feito sempre em busca de um equilíbrio, de forma a não ferir a "segurança
jurídica inerente ao processo". O desembargador também elogia o fato de o
anteprojeto valorizar a jurisprudência e as decisões de primeiro grau.
- Hoje a
decisão do juiz de primeiro grau só produz efeito se não houver recurso -
aponta.
Na
opinião do consultor-geral legislativo do Senado, Bruno Dantas, que também
integra a comissão, o anteprojeto torna o processo judicial mais racional. Ele
destaca o fato de uma audiência de conciliação passar a ser o passo inicial do
processo, a possibilidade de um advogado intimar o advogado da outra parte pelo
correio, e a parte interessada ficar responsável pela presença da testemunha na
audiência.
Processo
eletrônico
Também membro
do grupo que elaborou o anteprojeto, o secretário-geral do Conselho Federal da
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcus Vinícius Furtado Coelho, considera
a adoção de um novo Código de Processo Civil um
"passo importante e necessário" para tornar o Judiciário mais rápido,
mas não o único. Segundo ele, sem melhorar a "gestão da Justiça", os
problemas vão persistir. O advogado cita o exemplo da implantação do processo
eletrônico no país.
- Cada
tribunal inventou o seu sistema de computador, e um não se comunica com o outro
- critica.
A
relatora Teresa Wambier explica que o anteprojeto prevê a padronização dos
sistemas.
- Nós
estamos criando uma regra no sentido de que caberá ao Conselho Nacional de
Justiça criar diretrizes para uniformizar o processo eletrônico no país
inteiro.
A
comissão não encerra seus trabalhos com a apresentação do anteprojeto. Os
juristas vão acompanhar a discussão e a votação do novo Código de Processo Civil pelo
Congresso Nacional. Nesta quarta-feira, o ministro Luiz Fux debaterá o
anteprojeto com os senadores da Comissão de Constituição,
Justiça e Cidadania (CCJ).
* Extraído de: Tribunal de Justiça do Estado do
Maranhão -
08/06/2010. Fonte: Agência Senado.
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