Meu Universo Particular!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago...

Hoje, fiquei um pouco orfã de ideias brilhantes esparramadas em blocos de textos sem parágrafos e pontos, mas cheias de todo o resto... 
Difícil dizer qual das suas obras mais me marcou... todas marcaram... ficaram trechos inesquecíveis... 

A obra A JANGADA DE PEDRA tem este pequeno texto que é sensacional: 

"Quantas vezes, para mudar a vida, precisamos da vida inteira, pensamos tanto, tomamos balanço e hesitamos, depois voltamos ao princípio, tornamos a pensar e a pensar, deslocamo-nos nas calhas do tempo com um movimento circular, como os espojinhos que atravessam o campo levantando poeira, folhas secas, insignificancias, que para mais não lhes chegam as forças, bem melhor seria vivermos em terras de tufões. Outras vezes uma palavra é quanto basta." 

 E outras tantas...

"(...) as velhas fotografias enganam muito, dão-nos a ilusão de que estamos vivos nelas, e não é certo, a pessoa para quem estamos a olhar já não existe, e ela, se pudesse ver-nos, não se reconheceria em nós." (Todos os nomes)

“(...) a pele é tudo quanto queremos que os outros vejam de nós, por baixo dela nem nós próprios conseguimos saber quem somos.” (Todos os nomes)

"(...) somos uma pequena e trémula chama que a cada instante ameaça apagar-se (...)" (Ensaio sobre a lucidez) 

"A cabeça dos seres humanos nem sempre está completamente de acordo com o mundo em que vivem, há pessoas que tem dificuldade em ajustar-se à realidade dos factos, no fundo não passam de espíritos débeis e confusos que usam as palavras, às vezes habilmente, para justificar a sua covardia." (Ensaio sobre a lucidez) 

"Sabes o nome que te deram, mas não sabes o nome que tens". - O Livro dos Nomes 

 No " O Evangelho Segundo Jesus Cristo" quando Marta pede que Jesus ressuscite Lázaro e Maria de Magdala, sua irmâ, diz: "Jesus: ninguém têm tantos pecados na vida que mereça morrer duas vezes"... 
“O tempo não é uma corda que se possa medir de nó a nó. O tempo é uma superfície obliqua e ondulante, onde só a memória é capaz de mover e aproximar”. 
“Bata em um cão e ele irá ganir, corte uma arvore e ela irá chorar, ofenda um homem, ele irá crescer.” (Ambos de Evangelho Segundo Jesus Cristo) 

citação no livro de Sebstião Salgado Terra: "Posto diante de todos estes homens reunidos, de todas estas mulheres, de todas estas crianças (sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra, assim lhes fora mandado), cujo suor não nascia do trabalho que não tinham, mas da agonia insurportável de não o ter, Deus arrependeu-se dos males que havia feito e permitido, a um ponto tal que, num arrebato de contrição, quis mudar o seu nome para um outro mais humano. Falando à multidão, anunciou:'A partir de hoje chamar-me-ei Justiça.'E a multidão respondeu-lhe: Justiça, já a temos, e não nos atende. E disse Deus: Sendo assim tomarei o nome de Direito. E a multidão tornou a responder-lhe: Direto, já nós temos, e não nos conhece. E Deus: Nesse caso, ficarei com o nome de Caridade, que é um nome bonito. Disse a multidão: Não necessitamos de caridade, o que queremos é uma Justiça que se cumpra e um Direto que nos respeite. Então Deus compreendeu que nunca tivera, verdadeiramente, no mundo que julgaa seu, o lugar de majestade que havia imaginado, que tudo fora, afinal, uma ilusão, que também ele tinha sido vítima de enganos, como aqueles de que se estavam queixando, as mulheres, os homens e as crianças e, humilhado, retirou-se para a eternidade. A penultima imagem que ainda viu foi a de espingardas apontando para a multidão, o penultimo som que ouviu foi dos disparos, mas a última imagem já havia corpos caídos sangrando, e o último som esta cheio de gritos e lágrimas". 

Em "O homem duplicado", diálogo entre o professor de matemática e Tertuliano. "A sociedade, meu querido amigo, tal como a humanidade, é uma abstração (...) O mundo não tem mais problemas que os problemas das pessoas (...)" 

Pequenos textos... 

 - "A consciência moral, que tantos insesatos tem ofendido e muito mais renegado, é coisa que existe e existiu sempre, não foi uma invenção dos filósofos do Quartenario, quando a alma mal passava ainda de um projeto confuso. Com o andar dos tempos, mais as atividades de convivência e as trocas genéticas, acabamos por meter a consciência na cor do sangue e no sal das lágrimas, e, como se tanto fosse pouco, fizemos dos olhos uma espécie de espelhos vidrados para dentro, com o resultado, muitas vezes, de mostrarem eles sem reserva o que estavamos tratando de negar com a boca".

- "Se antes de cada ato nosso nos pusessemos a prever todas as consequências dele, a pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegariamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar". 

"Fôssemos nós tão imprudentes, ou tão ousados, como as borboletas, falenas e outras mariposas, e ao fogo nos lançaríamos, nós todos, a espécie humana em peso, talvez uma combustão assim imensa, um tal clarão, atravessando as pálpebras cerradas de Deus, o despertasse do seu letárgico sono, demasiado tarde para conhecer-nos, é certo, porém a tempo de ver o princípio do nada, agora que tínhamos desaparecido."

"Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de reflexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, nao vamos a parte nenhuma". 

 Em fim... são tantas...

 http://vimeo.com/7628038 

Quando Saramago completou 87 anos, no dia 16 de novembro de 2009, a Fundação José Saramago produziu o vídeo acima com amigos e leitores do autor entoando trechos de sua obra.  

O vídeo abaixo, mostra trechos lidos de "Castelo Novo"

 http://vimeo.com/5216170

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gostou?

Nossos Leitores gostaram igualmente de